A China oficializou, no final de maio, em Hong Kong, a criação da Organização Internacional de Mediação (OIMed) — um novo órgão internacional voltado à mediação voluntária de disputas entre Estados, empresas e indivíduos. A iniciativa já conta com o apoio formal de 33 países, principalmente da Ásia, África e América Latina, com destaque para a Sérvia e Belarus como únicos signatários europeus. No total, mais de 80 nações participaram da cerimônia de lançamento, demonstrando interesse ou apoio inicial.
A OIMed surge como uma alternativa aos atuais mecanismos internacionais de resolução de controvérsias, como o Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA) e o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), com a promessa de ser uma via mais flexível, acessível e representativa, especialmente para países do chamado Sul Global — regiões historicamente sub-representadas em fóruns decisórios internacionais.
Segundo o governo chinês, o órgão terá competência para atuar na mediação de conflitos entre governos, bem como em disputas comerciais e de investimento internacional, desde que haja consentimento mútuo entre as partes. A estrutura da OIMed será sediada em um antigo edifício da era colonial britânica, em Hong Kong, e pretende se posicionar como entidade de mesmo nível institucional que os grandes tribunais internacionais da atualidade.
Entretanto, a criação da OIMed também levanta preocupações. Potências ocidentais demonstram receio quanto à imparcialidade da instituição, uma vez que ela nasce sob clara liderança chinesa. A tensão geopolítica entre China e Estados Unidos, somada ao histórico de Pequim em rejeitar decisões arbitrais — como no caso do Mar do Sul da Chinaem 2016 —, acirra o ceticismo em relação aos reais objetivos da nova organização.
Apesar das dúvidas, países como a Suíça participaram do lançamento como observadores. O ministro suíço das Relações Exteriores, Ignazio Cassis, discursou durante a cerimônia destacando o compromisso suíço com soluções diplomáticas pragmáticas e a neutralidade como valor essencial nos processos de mediação internacional.
Para analistas, a criação da OIMed faz parte de um movimento mais amplo da China de reposicionar-se como liderança na governança global, oferecendo alternativas aos mecanismos criados e dominados historicamente por nações ocidentais. Nesse sentido, a OIMed se alinha a outras estratégias chinesas, como a Belt and Road Initiative e o incentivo ao uso do yuan em transações internacionais.
O sucesso da OIMed, contudo, dependerá da sua capacidadede operar com neutralidade, transparência e eficácia, além de conquistar a confiança de uma base mais ampla de países. Caso consiga se consolidar como uma ferramenta legítima de solução de controvérsias internacionais, poderá representar uma importante transformação no cenário jurídico e diplomático global.
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