Como elaborar um termo de acordo amigável eficaz

  • Daniel Gontijo
Publicado dia
28/7/2025
...
de leitura
Atualizado em
28/7/2025
  • Arbitragem

Enfrentar um conflito não significa necessariamente partir para uma batalha judicial ou arbitral prolongada. Na verdade, a maioria das disputas pode ser resolvida através de um termo de acordo amigável que beneficie ambas as partes e preserve relacionamentos importantes. Mas como criar um acordo que realmente funcione e tenha validade legal?

Um termo de acordo bem elaborado é muito mais do que apenas colocar no papel "ficamos quites". É um documento legal que encerra definitivamente um conflito, estabelece obrigações claras para ambas as partes, e oferece segurança jurídica total para o futuro. Quando feito corretamente, pode ser uma solução muito mais vantajosa do que qualquer decisão imposta por um juiz ou árbitro.

A grande vantagem do acordo amigável é que você mantém o controle sobre a solução. Em vez de depender da interpretação de terceiros sobre seus direitos e obrigações, você e a outra parte constroem juntos uma solução que atenda às necessidades específicas de cada um.

O que é um termo de acordo amigável

Um termo de acordo amigável é um documento formal onde as partes em conflito estabelecem as condições para encerrar definitivamente sua disputa. É um contrato específico que substitui obrigações anteriores por novas condições mutuamente aceitas, criando uma solução personalizada para o problema em questão.

Diferentemente de uma simples "conversa de corredor" ou promessa verbal, o termo de acordo tem força legal e pode ser executado judicialmente se uma das partes não cumprir o que foi combinado. Isso significa que oferece a mesma segurança de uma sentença judicial, mas com a vantagem de ter sido construído pelas próprias partes.

O acordo pode resolver tanto conflitos já existentes quanto prevenir disputas futuras relacionadas ao mesmo relacionamento comercial ou contratual. É uma ferramenta versátil que pode ser usada em situações que vão desde pequenos desentendimentos entre vizinhos até complexas disputas empresariais.

Importante destacar que o termo de acordo amigável não é uma admissão de culpa por nenhuma das partes. É simplesmente o reconhecimento de que existe uma divergência e que ambas preferem resolver de forma consensual em vez de prolongar o conflito.

Quando optar por um acordo amigável

A decisão de buscar um acordo amigável deve considerar diversos fatores práticos e estratégicos. Se você tem relacionamento comercial contínuo com a outra parte, o acordo pode ser a melhor forma de preservar essa relação para o futuro. Processos judiciais ou arbitrais, mesmo quando você ganha, frequentemente destroem definitivamente a possibilidade de fazer negócios futuros.

Questões de tempo e custo também são fundamentais. Se o valor em disputa é relativamente baixo comparado aos custos e tempo de um processo formal, o acordo amigável pode ser muito mais vantajoso economicamente. Mesmo que você tenha certeza de que ganharia um processo, pode não valer a pena o investimento necessário.

A incerteza do resultado é outro fator importante. Por mais que você acredite ter razão, sempre existe risco em qualquer processo formal. Um acordo garante um resultado conhecido e controlado, eliminando a possibilidade de surpresas desagradáveis.

Situações onde há aspectos emocionais envolvidos, como disputas familiares ou entre sócios, frequentemente se beneficiam mais de acordos amigáveis. Nesses casos, uma solução imposta por terceiros pode acirrar ainda mais os ânimos, enquanto um acordo construído em conjunto pode até restaurar relacionamentos.

Elementos essenciais de um acordo válido

Todo termo de acordo amigável eficaz deve conter identificação completa das partes, incluindo nomes, CPFs ou CNPJs, endereços e demais dados necessários para localização. Essa identificação precisa ser precisa para evitar problemas futuros de execução.

A descrição clara do conflito que está sendo resolvido é fundamental. Isso inclui a origem da disputa, valores envolvidos, e quaisquer circunstâncias específicas que levaram ao conflito. Essa descrição serve para delimitar exatamente o que está sendo resolvido pelo acordo.

As obrigações de cada parte devem ser detalhadas de forma específica e mensurável. Em vez de dizer "A parte X vai pagar", estabeleça "A parte X pagará R$ 10.000,00 em 5 parcelas de R$ 2.000,00, vencendo a primeira em 30 dias da assinatura deste acordo". Quanto mais específico, menor a chance de conflitos futuros.

Prazos claros são essenciais para o cumprimento das obrigações. Estabeleça datas específicas, formas de cálculo de prazos, e consequências para atrasos. Isso evita discussões posteriores sobre quando algo deveria ter sido cumprido.

A quitação mútua deve ser expressa de forma abrangente, estabelecendo que as partes nada mais têm a cobrar uma da outra relacionado ao conflito resolvido. Isso encerra definitivamente a possibilidade de novos questionamentos sobre o mesmo assunto.

Diferentes tipos de acordo conforme a situação

Acordos de pagamento são os mais comuns e envolvem o pagamento de quantia determinada por uma das partes. Podem incluir parcelamentos, descontos, ou formas alternativas de quitação como prestação de serviços ou entrega de produtos.

Acordos de obrigação de fazer estabelecem que uma parte deve realizar determinada ação, como concluir uma obra, prestar um serviço, ou entregar um produto. Esses acordos devem ser muito específicos sobre o que deve ser feito, quando, e como.

Acordos de obrigação de não fazer proíbem determinadas condutas, como divulgar informações confidenciais, concorrer em determinado mercado, ou contactar clientes específicos. São comuns em disputas comerciais e trabalhistas.

Acordos mistos combinam diferentes tipos de obrigações, como pagamento de valor mais prestação de serviços, ou entrega de produto mais obrigação de não fazer. Esses acordos oferecem flexibilidade para soluções criativas que atendam necessidades específicas de cada parte.

Validação e força legal do acordo

Para ter validade legal plena, o termo de acordo deve ser assinado por todas as partes com reconhecimento de firma ou assinatura digital válida. Isso garante a autenticidade das assinaturas e evita questionamentos futuros.

Presença de testemunhas pode fortalecer ainda mais o documento, especialmente em casos de valores mais altos ou acordos mais complexos. As testemunhas devem ser pessoas capazes e sem interesse direto no resultado do acordo.

Se o acordo envolver valores significativos ou obrigações complexas, pode ser interessante ter acompanhamento de advogados para garantir que todos os aspectos legais estejam adequadamente cobertos.

O acordo também pode ser homologado judicialmente, o que lhe confere força de título executivo judicial desde o momento da assinatura. Isso é especialmente útil em casos onde há desconfiança sobre o cumprimento espontâneo por uma das partes.

Resolva conflitos de forma inteligente

Na Arbitralis, oferecemos suporte completo para elaboração de termos de acordo amigável que tenham validade legal plena. Nossa mediação especializada pode ajudar você a encontrar soluções criativas que beneficiem todas as partes envolvidas.

Cláusulas especiais importantes

Cláusula penal estabelece uma multa automática para o caso de descumprimento do acordo. Isso incentiva o cumprimento espontâneo e evita discussões sobre o valor dos prejuízos causados pelo inadimplemento. A multa deve ser proporcional ao valor do acordo, geralmente entre 10% e 30%.

Cláusula de foro determina onde eventuais disputas sobre o cumprimento do acordo serão resolvidas. Pode estabelecer a competência de um tribunal específico ou, melhor ainda, prever que disputas futuras serão resolvidas por [arbitragem](link-interno-futuro: /arbitragem-para-pequenas-empresas-guia-pme).

Cláusula de confidencialidade pode ser importante em casos onde as partes não querem que os termos do acordo sejam divulgados publicamente. Isso protege a imagem de ambas as partes e evita que o acordo seja usado como precedente em outras situações.

Cláusula de força maior pode ser relevante em acordos de longo prazo, estabelecendo o que acontece se circunstâncias imprevistas impedirem o cumprimento das obrigações acordadas.

Acordo em diferentes fases do conflito

Acordo preventivo pode ser elaborado quando as partes percebem que existe potencial para conflito, mas antes que ele se materialize. Por exemplo, quando há mudanças nas condições de um contrato que podem gerar disputas futuras.

Acordo durante negociação direta acontece quando as partes conseguem resolver suas diferenças através de conversas diretas, sem necessidade de mediação ou processo formal. Esses acordos frequentemente são mais satisfatórios para ambas as partes.

Acordo durante mediação é facilitado por um mediador neutro que ajuda as partes a encontrarem pontos de convergência. A presença do mediador frequentemente resulta em acordos mais equilibrados e sustentáveis.

Acordo durante processo arbitral pode acontecer mesmo após o início de um processo formal. Muitas vezes, a pressão de um processo em andamento motiva as partes a encontrarem uma solução consensual. Se você [recebeu notificação arbitral](link-interno: /cpf-notificado-justica-arbitral-o-que-fazer), ainda é possível buscar acordo a qualquer momento.

Modelo básico de termo de acordo

Um modelo eficaz de termo de acordo deve começar com título claro identificando que se trata de um "Termo de Acordo Amigável e Quitação". A identificação das partes deve incluir todos os dados necessários para localização e execução futura.

O preâmbulo deve explicar brevemente a origem do conflito e a intenção das partes de resolver amigavelmente a questão. Isso contextualiza o acordo e demonstra a boa-fé de ambas as partes.

As cláusulas do acordo devem ser numeradas sequencialmente e abordar cada aspecto da solução acordada. Começe pelas obrigações principais, depois trate de prazos, condições, e penalidades para descumprimento.

A cláusula de quitação deve ser expressa e abrangente, deixando claro que as partes nada mais têm a cobrar uma da outra relacionado ao objeto do acordo.

O encerramento deve incluir data, local, assinaturas das partes, e identificação de testemunhas se houver.

Erros comuns que invalidam acordos

Linguagem vaga ou ambígua é o erro mais comum em termos de acordo. Frases como "pagamento em condições a serem definidas" ou "prestação de serviços adequados" criam margem para interpretações divergentes e novos conflitos.

Ausência de prazos específicos é outro problema frequente. Estabelecer que algo será feito "o mais rápido possível" ou "em tempo hábil" não oferece segurança jurídica para nenhuma das partes.

Obrigações impossíveis ou ilegais podem invalidar todo o acordo. É importante verificar se tudo o que está sendo acordado é factível e está dentro da legalidade.

Falta de proporcionalidade entre as obrigações das partes pode caracterizar abusividade e tornar o acordo questionável. Mesmo sendo consensual, acordos muito desequilibrados podem ser anulados pela Justiça.

Executando o acordo quando há descumprimento

Se uma das partes não cumprir o acordo, você não precisa iniciar um processo do zero. O termo de acordo amigável constitui título executivo extrajudicial, o que significa que pode ser executado diretamente na Justiça comum para cobrar o cumprimento forçado.

Antes de partir para execução judicial, considere tentar uma [notificação extrajudicial](link-interno-futuro: /notificacao-extrajudicial-digital-como-enviar) formal cobrando o cumprimento. Muitas vezes, isso é suficiente para resolver a situação sem necessidade de processo.

Se o descumprimento for parcial ou houver justificativas razoáveis, pode ser interessante renegociar os termos do acordo em vez de partir imediatamente para execução. Isso pode preservar relacionamentos e resultar em soluções mais práticas.

Acordo amigável vs. outras formas de resolução

Comparado com a arbitragem, o acordo amigável oferece maior controle sobre o resultado e menor custo, mas exige cooperação da outra parte. A arbitragem é indicada quando não há disposição para negociar ou quando as posições estão muito distantes.

Em relação ao Judiciário tradicional, o acordo é sempre mais rápido, menos custoso, e oferece maior flexibilidade para soluções criativas. Além disso, preserva relacionamentos que processos adversariais frequentemente destroem.

A mediação pode ser um caminho intermediário interessante, oferecendo suporte profissional para construção do acordo quando as partes têm dificuldade para negociar diretamente.

Aspectos fiscais e tributários

Dependendo do tipo de acordo, pode haver implicações tributárias que devem ser consideradas. Pagamentos de indenização podem ter tratamento fiscal diferente de quitação de dívidas comerciais.

É importante documentar adequadamente a natureza dos valores envolvidos no acordo para evitar problemas futuros com a Receita Federal. Valores pagos a título de danos morais, por exemplo, têm tratamento tributário específico.

Se o acordo envolver compensação de créditos entre as partes, essa operação deve ser documentada de forma clara para fins fiscais e contábeis.

Preservando relacionamentos através do acordo

Uma das maiores vantagens do termo de acordo amigável é a preservação de relacionamentos comerciais ou pessoais importantes. Processos adversariais, mesmo quando você ganha, frequentemente tornam impossível qualquer relacionamento futuro.

O acordo permite que ambas as partes "salvem a face" e mantenham sua reputação no mercado. Ninguém precisa ser declarado "perdedor", e ambas podem apresentar o resultado como satisfatório para suas necessidades.

Em disputas empresariais, a capacidade de continuar fazendo negócios após resolver um conflito pode valer muito mais do que eventuais vantagens de uma vitória judicial total.

Conclusão: A inteligência da solução consensual

Um termo de acordo amigável bem elaborado representa inteligência estratégica na resolução de conflitos. Permite que você mantenha controle sobre o resultado, preserve relacionamentos importantes, e resolva disputas de forma rápida e econômica.

A chave está em equilibrar flexibilidade para atender necessidades específicas com precisão técnica para garantir validade legal e executabilidade. Um acordo vago pode gerar novos conflitos, enquanto um acordo excessivamente rígido pode inviabilizar o cumprimento.

Na Arbitralis, temos experiência em facilitar acordos que realmente funcionam, seja através de mediação especializada ou suporte na elaboração de termos juridicamente sólidos. Lembre-se: resolver um conflito através de acordo não é sinal de fraqueza, mas sim de maturidade e visão estratégica.

ArbiNews: Fique por dentro do mundo jurídico.

Receba insights exclusivos e conteúdos relevantes para enriquecer seu conhecimento jurídico.

Veja outros artigos relacionados

A plataforma digital especializada em arbitragem

Ajudamos você e sua empresa a resolverem problemas sem precisar entrar com processo na justiça.

Fale conosco