Você já parou para pensar em como se resolvem os conflitos fora do planeta Terra?
O que antes parecia ficção científica hoje é realidade: missões privadas orbitando a Terra, projetos de mineração na Lua e disputas comerciais surgindo no vácuo do espaço. E quando esses conflitos emergem, tribunais terrestres são suficientes? Ou será que já estamos entrando na era da arbitragem espacial?
O Direito Espacial existe, mas não diz tudo
Desde a década de 1960, tratados internacionais como o Tratado do Espaço Exterior (1967) tentam regular o uso do espaço. Eles falam sobre responsabilidade por danos, cooperação entre nações e uso pacífico da tecnologia espacial. Mas há um detalhe importante: nenhum desses tratados prevê diretamente o uso da arbitragem para resolver disputas.
Na prática, porém, muitos contratos firmados entre governos, empresas e investidores do setor espacial já contam com cláusulas compromissórias. Ou seja, mesmo sem uma previsão expressa nos tratados, a arbitragem já é uma escolha recorrente no espaço.
As regras para arbitrar disputas espaciais já existem
Em 2011, o Tribunal Permanente de Arbitragem (PCA) lançou um conjunto inédito: as Regras opcionais para disputas relacionadas a atividades no espaço exterior. Elas adaptam os procedimentos tradicionais da arbitragem para o ambiente espacial e trazem soluções interessantes:
Apesar de sua inovação, essas regras ainda não foram aplicadas em casos práticos. As disputas seguem sendo resolvidas por normas arbitrais tradicionais.
Alguns casos que mostram que a arbitragem já decolou
Se ainda não usamos as Regras do Espaço do PCA, isso não significa que a arbitragem esteja ausente no setor. Pelo contrário.
No conflito Devas vs. Antrix, em 2015, a estatal indiana foi condenada por romper um contrato com a empresa Devas, envolvendo o fornecimento de capacidade de satélites. O caso foi arbitrado sob as regras da CCI e resultou em uma indenização de US$ 500 milhões.
Já em Eutelsat vs. México, litígio de 2021, a arbitragem aconteceu no âmbito do ICSID e tratou de alegações de tratamento desigual no uso do espectro orbital. O mais curioso? Foi um caso de arbitragem investidor - Estado fora do território terrestre — um marco jurídico inédito.
Mas afinal, precisamos de regras arbitrais específicas para o espaço?
Hoje, os mecanismos existentes atendem bem à maioria das disputas espaciais, especialmente as de natureza contratual. No entanto, com acrescente complexidade do setor — que já inclui turismo espacial, exploração de recursos em corpos celestes e tráfego orbital —, regras mais específicas podem ser essenciais para garantir segurança jurídica e estabilidade.
O caminho natural das disputas do futuro
A arbitragem tem tudo para ser o meio preferencial de resolução de conflitos no setor espacial. É técnica, flexível, confidencial e eficiente — características indispensáveis em um ambiente em que a inovação caminha na velocidade da luz.
Porque, no final das contas, o Direito também precisa olhar para cima.
E estar preparado para resolver os conflitos que virão do além — literalmente.
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