Arbitragem no espaço: Quando os conflitos ultrapassam a atmosfera

  • Raphael Lucca
Publicado dia
11/7/2025
...
de leitura
Atualizado em
11/7/2025
  • Arbitragem
  • Dispute Board
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  • Tendências

Você já parou para pensar em como se resolvem os conflitos fora do planeta Terra?

O que antes parecia ficção científica hoje é realidade: missões privadas orbitando a Terra, projetos de mineração na Lua e disputas comerciais surgindo no vácuo do espaço. E quando esses conflitos emergem, tribunais terrestres são suficientes? Ou será que já estamos entrando na era da arbitragem espacial?

O Direito Espacial existe, mas não diz tudo

Desde a década de 1960, tratados internacionais como o Tratado do Espaço Exterior (1967) tentam regular o uso do espaço. Eles falam sobre responsabilidade por danos, cooperação entre nações e uso pacífico da tecnologia espacial. Mas há um detalhe importante: nenhum desses tratados prevê diretamente o uso da arbitragem para resolver disputas.

Na prática, porém, muitos contratos firmados entre governos, empresas e investidores do setor espacial já contam com cláusulas compromissórias. Ou seja, mesmo sem uma previsão expressa nos tratados, a arbitragem já é uma escolha recorrente no espaço.

As regras para arbitrar disputas espaciais já existem

Em 2011, o Tribunal Permanente de Arbitragem (PCA) lançou um conjunto inédito: as Regras opcionais para disputas relacionadas a atividades no espaço exterior. Elas adaptam os procedimentos tradicionais da arbitragem para o ambiente espacial e trazem soluções interessantes:

  • Árbitros e especialistas com conhecimento técnico em atividades espaciais;
  • Garantia de sigilo em informações estratégicas e sensíveis;
  • Procedimentos simplificados para lidar com documentos técnicos complexos;
  • Participação de consultores científicos para apoiar decisões jurídicas.

Apesar de sua inovação, essas regras ainda não foram aplicadas em casos práticos. As disputas seguem sendo resolvidas por normas arbitrais tradicionais.

Alguns casos que mostram que a arbitragem já decolou

Se ainda não usamos as Regras do Espaço do PCA, isso não significa que a arbitragem esteja ausente no setor. Pelo contrário.

No conflito Devas vs. Antrix, em 2015, a estatal indiana foi condenada por romper um contrato com a empresa Devas, envolvendo o fornecimento de capacidade de satélites. O caso foi arbitrado sob as regras da CCI e resultou em uma indenização de US$ 500 milhões.

Já em Eutelsat vs. México, litígio de 2021, a arbitragem aconteceu no âmbito do ICSID e tratou de alegações de tratamento desigual no uso do espectro orbital. O mais curioso? Foi um caso de arbitragem investidor - Estado fora do território terrestre — um marco jurídico inédito.

Mas afinal, precisamos de regras arbitrais específicas para o espaço?

Hoje, os mecanismos existentes atendem bem à maioria das disputas espaciais, especialmente as de natureza contratual. No entanto, com acrescente complexidade do setor — que já inclui turismo espacial, exploração de recursos em corpos celestes e tráfego orbital —, regras mais específicas podem ser essenciais para garantir segurança jurídica e estabilidade.

O caminho natural das disputas do futuro

A arbitragem tem tudo para ser o meio preferencial de resolução de conflitos no setor espacial. É técnica, flexível, confidencial e eficiente — características indispensáveis em um ambiente em que a inovação caminha na velocidade da luz.

Porque, no final das contas, o Direito também precisa olhar para cima.
E estar preparado para resolver os conflitos que virão do além — literalmente.

 

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